O bigode e sua capitania


R. FLAUSINO* 

Na escola, nos tempos de “eu menino” - como diria Manuel Bandeira - aprendi que o sistema das capitanias hereditárias era coisa do passado. Acabo de ler o livro “Honoráveis Bandidos – Um retrato do Brasil na era Sarney”, do jornalista Palmério Dória. O livro ficou durante 19 semanas na lista dos mais vendidos da VEJA. Aprendi que pelo menos no Maranhão o sistema feudalista e provinciano da capitania hereditária continua, tendo no ápice nosso nobre presidente do Senado. 


José  Sarney encarna todos os sentidos que a palavra “oportunista” pode encerrar. Sua cara de pau é magnânima. Conhecemos várias de suas manobras. Todavia, a mais proveitosa para ele e sua família, com certeza, foi largar o barco da ditadura e cair no colo de Tancredo Neves, em 1985. O homem é um espertalhão de mão cheia! Foi presidente sem um único voto, esteve ao lado de FHC até não conseguir emplacar sua filha Roseana para a presidência, e hoje morre de amores por Lula. Nem Freud explica o bigode. Mas Palmério Dória explicou. Esclareceu. Nunca li algo tão revelador sobre o bigodão.  Palmério Dória pode ser considerado o oráculo do estado escravizado. O povo maranhense pode acender velas e oferecer flores a ele.  

No livro percebemos como Sarney transformou o Maranhão no quintal de sua casa, como consegue exercer tanta influência, e percebemos, sobretudo, o quão nocivo é sua presença na cena política brasileira. “Honoráveis Bandidos” é, sobretudo, uma lição de Brasil. Do Brasil politicagem. Do Brasil mesquinho. Do Brasil Sarney. Do Brasil síntese perfeita daquilo que combatemos, o Brasil do rouba mas faz...

*R. FLAUSINO é Jornalista

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