O caso de Ipatinga

Desde 2008 o município vive um clima de
indefinição política, com sucessivas trocas de prefeito


Aline Moura e R. Flausino*

Este artigo foi publicado no jornal O Tempo, de BH, em 27/05/10 (veja aqui)

Enquanto na pauta do noticiário político nacional está o projeto da Ficha Limpa, em Ipatinga, capital do Vale do Aço, um ex-prefeito "ficha suja" desafia as decisões da Justiça Eleitoral nas eleições extraordinárias marcadas para o dia 30 próximo. Décima maior cidade do Estado, Ipatinga enfrenta acirrada disputa política em eleições municipais extraordinárias. Os candidatos registrados estão em plena campanha e, por meio de manobras políticas, alguns deles talvez consigam reassumir o poder, mesmo tendo sido cassados anteriormente pela Justiça Eleitoral.

Um dos que tentam retomar a prefeitura é o petista Chico Ferramenta. Prefeito da cidade por três vezes, Chico foi condenado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), no final de 2006, a ressarcir os cofres da prefeitura em R$ 21,9 milhões, além do pagamento de uma multa de R$ 4 milhões por irregularidades na aplicação de verbas públicas. A condenação, teoricamente, tornaria Chico inelegível.

Mas, em 2008, o petista conseguiu uma liminar para registrar nova candidatura, concorreu novamente ao cargo e ganhou. Mas não chegou a tomar posse, porque teve seu registro de candidatura cassado pela Justiça Eleitoral. Fora essa condenação do TCU, Ferramenta responde a mais de 390 processos em todo o Brasil, acumulando só no seu currículo de "ficha suja" 103 processos judiciais em Minas Gerais.

Soaria então como uma afronta se Chico Ferramenta se candidatasse novamente às eleições de 30 de maio?

Essa pergunta Chico não deve ter feito a si mesmo. E como não poderia se candidatar mais uma vez, já que seu caso fora levado até ao Supremo Tribunal Federal, resolveu então colocar a mulher, a deputada estadual Cecília Ferramenta, para concorrer às prévias do PT e ser eleita candidata do partido às novas eleições.

Não bastasse isso, é coordenador de campanha da esposa, adotando um discurso carismático onde incita a população contra o Poder Judiciário, chegando ao extremo de dizer que a Justiça lhe aplicou um "golpe" e que "garfou" sua vitória em 2008.

A triste crônica da cidade, que se assemelha à Sucupira de Odorico Paraguassú, não acaba por aí. Segundo lugar nas eleições de 2008, o peemedebista Sebastião Quintão chegou a assumir a prefeitura no lugar de Chico Ferramenta, quando esse foi cassado.

Mas não durou no cargo, porque também foi condenado, em 2010, à perda de seu mandato de prefeito. Responde, atualmente, a mais de 120 processos na Justiça mineira. E talvez por não ter mulher fazendo política, não ousou fazer a cônjuge se candidatar ao pleito.

A poucos dias da eleição extraordinária de Ipatinga, fica a pergunta que não quer calar: qual será o político que assumirá o cargo de prefeito da cidade mais importante do Vale do Aço, um polo econômico e industrial de extrema importância para Minas Gerais? E quanto tempo ele vai durar?

* Aline Moura, do RJ e R. Flausino, de MG  são jornalistas e colaboradores do site do movimento www.roubamasfaznuncamais.com.br

2 comentários

Anônimo disse...

PALHAÇOS, BEM-VINDOS AO CIRCO


Vamos pintar o rosto de cores rubras, quanto mais fortes, melhor. Isso, coloquemos o narizinho vermelho de palhaço. Que palhacinhos obedientes somos nós! Nossa sujeição é cômica, só faltam mesmo os acessórios, para irmos às urnas, no próximo domingo.
Cumprimos o dever de cidadãos, comparecemos às urnas, em 2008 e votamos para Prefeito de Ipatinga. Agora, temos que repetir tudo, como se culpados fôssemos dos erros alheios. Então, nossos votos não tiveram valor? E o tempo que perdemos? E os créditos que demos aos programas e promessas dos nossos candidatos eleitos? Certamente, não são merecedores das nossas nobres expectativas. Estão zombando da nossa disponibilidade e da nossa boa fé de cidadãos, nos obrigando a votar novamente. Usam a Constituição para forçar o povo a votar, sendo que esse ato já foi cumprido. A Justiça não poderia ter permitido candidatos com processos em andamento, concorrerem às eleições. Tampouco, ter acatado inúmeros recursos de candidatos impugnados e inelegíveis. Duas eleições em um mesmo ano é muito cansativo e sai muito caro para os cofres públicos.
Como palhaços, assistimos às truculências dos tais candidatos. Ninguém quer renunciar a nada, abdicar-se de nada, em benefício da cidade, que permanece estagnada há quase dois anos. Todos dizem querer bem a Ipatinga, trabalhar pelo seu progresso. Pura falácia! Visam os seus próprios interesses, pelo dinheiro e muito pelo poder de estarem à frente da Prefeitura de uma cidade próspera. É a gama do poder, da vaidade. Se pensassem mesmo na cidade, não teriam recorrido tantas vezes, reivindicando os cargos. Acatariam às decisões da justiça, pela ordem e progresso de nossa terra.
Como palhaços, temos que suportar as campanhas políticas extemporâneas, com difamações e calúnias de ambos. Não apresentam projetos, plataformas de governo, somente coalizões esdrúxulas, que anos atrás, não imaginávamos possíveis. Abrindo a caixa de correio, nos deparamos com os panfletos de conteúdos vazios e caluniosos. Todos têm a cauda presa, parece até que algum se salva, nesse nessa lama de gusa.
O mundo todo assiste ao circo ipatinguense. Via internet, as notícias correm... As intrigas estão na rede. E os palhaços vão, em pleno domingo cumprir o já cumprido, eleger um novo prefeito, cuja posse é duvidosa. E se empossado, governará, até que um novo outro recurso, o impugnará. E vamos nós, para a cirandinha...
Considero a política essencial para a sociedade organizada. O voto é um direito que prezamos e exercemos com dignidade e boa vontade. Só não quero compartilhar com essa muvuca eleitoral e não concordo com a obrigatoriedade e o vexame que impõem aos cidadãos ipatinguenses.
Domingo próximo, narizinhos vermelhos e títulos à mão, bem-vindos ao circo, eleitores palhaços!
DORA OLIVEIRA
Blog www.doraoliveira.blogspot.com

Ana Paula Fernandes disse...

Aplausos, aplausos e mais aplausos para o comentário acima!

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Maira Gall