Onde está o compromisso da VEJA?



R. FLAUSINO*


No Brasil, parte da imprensa conservadora teima em jogar o engodo da maldade própria na esperança de que os seus adversários ideológicos o belisquem. Recentemente a revista VEJA nos trouxe uma entrevista com o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra, e as perguntas formuladas pelos jornalistas Otávio Cabral e Daniel Pereira foram carregadas de um sentimento implícito de complicar a vida do dirigente petista. Nada de anormal até aqui, principalmente se considerarmos a argúcia dos entrevistadores e a relação da revista quando o assunto é o PT.



Perguntaram se o Partido dos Trabalhadores acredita numa conspiração da imprensa contra Dilma Rousseff, candidata da sigla na sucessão presidencial de outubro próximo. José Eduardo foi claro: “Existem articulistas que transformaram suas colunas em libelos contra nossa candidatura...”.


Não precisamos sair das páginas de VEJA para encontrar pelo menos dois articulistas que combinam a nostalgia do mundo bipartido entre esquerda e direita – ainda pensam que o mundo está dividido pelo muro de Berlim – e que usam seus espaços nitidamente para fazerem uma desconstrução da candidatura petista e uma maquiagem da candidatura da situação e de outros fatos que menos lhes agradam o raciocínio crítico e isento.


Todavia, um ponto que nos chamou atenção na entrevista, não foi uma pergunta, mas sim uma afirmação da VEJA: “Políticos têm dito que as novas regras eleitorais, como o fim da doação oculta, tornam o caixa dois quase obrigatório.” Vamos ao exame: a VEJA, mormente nos últimos sete anos, tem se destacado pelas várias denúncias que faz, seja contra a corrupção política ou eleitoral. Carrega nas tintas um pouco aqui, descarrega em outros acolá. Exemplo: carregou no mensalão do PT e coloriu no mensalão do PSDB mineiro. Mais recentemente, tapou o nariz no mensalão do DEM, comandando por José Roberto Arruda, e só deu maior destaque ao fato quando o assunto já havia estourado nacionalmente. No entanto, não deixamos de reconhecer o excelente serviço que a revista presta ao país.


Adiante: ao afirmar que “políticos tem dito que as novas regras eleitorais...tornam o caixa dois quase obrigatório”, a VEJA tem a obrigação de responder à sociedade pelo menos cinco indagações: 1) quem são esses políticos? 2) Por que a revista não explicita o nome desses quase criminosos? 3) a VEJA considera normal acobertar quem fez essas declarações? 4) Quais são os interesses escusos por trás da ocultação dos nomes dos quase criminosos? Será o sigilo da fonte? 5) E os bravos combatentes, arautos do bom jornalismo, Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, o que pensam dessa omissão talvez proposital da revista?


Na lógica estabelecida na pergunta de VEJA, existe agora o quase criminoso, pois de acordo com a revista, alguns políticos - observem: a própria VEJA deixou claro na afirmação que já sabe quem são eles! - já declararam que de acordo com as novas regras, o caixa dois será quase obrigatório...


José Eduardo Dutra respondeu a todas as indagações. Mais uma vez não fugiu do debate e não justificou o injustificável. Entretanto, quando afrontado pela afirmação da revista, perdeu a oportunidade de responder com uma pergunta: quais são os políticos que afirmam que o caixa dois é quase obrigatório?



*R. FLAUSINO é jornalista

E-mail: direito.flausino@hotmail.com














Um comentário

Unknown disse...

Esse tipo de trabalho feito por muitos veículos de imprensa é feito com muita clareza. Não somente em jornais impressos e revistas, mas também na mídia televisiva. Isto prova que estamos a mercê de profissionais que visam mais seus ideiais financeiros e ideologias frouxas. Se a população em geral não tiver senso crítico, continuaremos recebendo em nossas casas informações deturbadas sobre os fatos políticos que regem nosso país.

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