TV Babaca e os chips políticos

 Chips  ajudariam a sociedade a monitorar políticos


Um amigo que trabalha como aspone de um deputado de Minas Gerais e é obcecado por dinheiro,  tentou me convencer de que os políticos brasileiros não são exatamente corruptos. 

“São apenas mal remunerados. Incompreendidos!”, argumentou.  

Para esse meu amigo,  diante da forte exposição midiática e do julgamento da opinião pública a que estão expostos diariamente, não seria justo que os políticos recebessem apenas R$ 10, R$ 12 ou R$ 20 mil por mês, conforme determina a legislação.  Afinal, esses valores são bem inferiores aos recebidos por qualquer apresentador de televisão 'meia boca'.


“Eles têm mais é que partir  para o caixa 2, para as negociatas com empreiteiras, pois só assim vão conseguir receber um salário compatível com a publicidade e a exposição dos cargos que ocupam. Afinal, para fazer bem menos que os políticos, que são obrigados até a beijar e tomar cafezinho nas casas dos eleitores, o apresentador Fausto Silva recebe 5,2 milhões por mês da Globo;  Gugu Liberato, R$ 3 milhões da Record; e Hebe Camargo, R$ 650 mil do SBT”, buzinou em meu ouvido.


Nessa altura da conversa, que aconteceu em um bar da Savassi, em Belo Horizonte, eu já me encontrava um tanto quanto alcoolizado e disse – sem medo de parecer ridículo ou de perder o amigo - que aquele raciocínio era digno de um BABACA.

Magoado, meu amigo fez menção de se levantar da mesa, mas consegui detê-lo, dizendo para não ir embora,  porque agora era a minha vez de falar ‘abobrinhas’. Informei que  BABACA era tão somente a sigla de uma emissora de televisão que eu havia imaginado enquanto conversávamos. A sigla era formada pela junção das primeiras letras de  'Big Autoridade Brasileira Anônima Comandada pela Audiência'. 

Expliquei que a programação do canal seria especializada  em retratar o show da vida real dos políticos brasileiros, dando aos telespectadores o poder e a possibilidade de comandar as ações de seus agentes públicos. A grade do canal seria inteiramente preenchida com vídeos e áudios de autoridades protagonizando cenas de corrupção.

Meu amigo riu da idéia,  disse que eu estava assistindo muito Big Brother e que nunca haveria conteúdo para ser veiculado no canal BABACA. Afinal, disse ele, os políticos são espertos demais e não é todo dia que aparecem amadores como o ex-governador de Brasília, José Roberto Arruda, que se deixam filmar enquanto exercem o ofício de corruptor.

Concordei com essa observação, mas retruquei argumentando que o canal BABACA  não nasceria de imediato. Careceria de alguns anos, talvez décadas para ser viabilizado, até que os brasileiros se dessem conta de que é mais importante acompanhar os passos dos homens e mulheres a quem confiaram seus votos,  do que as abobrinhas difundidas regularmente por milionários da TV como Gugu, Faustão, Hebe e cia. 

Completando o raciocínio, afirmei que  no dia que a sociedade atingir esse grau de  evolução, provavelmente a ciência já terá tecnologia para criar  um chip anticorrupção, dispositivo essencial para funcionamento do canal BABACA.

Implantado dentro dos cérebros  dos políticos no momento que forem empossados nos cargos públicos, o chip transmitiria para um banco de dados -  em tempo real graças à Internet - tudo que os políticos virem, ouvirem ou falarem.

“E onde fica o direito à privacidade dos políticos?”, questionou meu amigo.

Respondi, então, que se eles andarem na linha não terão de se preocupar com qualquer tipo de invasão de privacidade, pois por força de lei, os dados transmitidos por seus respectivos chips ficariam permanentemente protegidos dos olhares da sociedade.

Mas havendo suspeita de corrupção, imediatamente a Justiça quebraria o sigilo ‘chipiônico’ do político e confirmadas as irregularidades por uma comissão de investigação,  as imagens e os áudios captados pelos chips anticorrupção seriam imediatamente veiculados no canal BABACA.

Quando terminei a explanação, meu amigo que já se encontrava impaciente, tomou de um só gole  o resto da cerveja que estava no copo, se levantou rapidamente e disse que eu deveria pagar a conta porque, para variar, ele estava sem dinheiro. Ao passar pela porta do bar, ele gritou pelo  nome e disse, em voz alta:

-  A única coisa que me consola desse papo que tivemos é saber que esse seu canal BABACA nunca vai existir porque ninguém leva a sério conversa de bêbado.

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